sábado, 23 de abril de 2011

Tadeu e Maria Angélica

          À primeira vista, Tadeu e Maria Angélica formavam um casal normal. Gostavam de cinema, de música e de viagens. Mas, acima de tudo, amavam o futebol. Só que, infelizmente, torciam para times rivais.

              No começo, isso não era um grande problema. Maria Angélica não se importava quando Tadeu comemorava as vitórias do time dele e Tadeu até dava parabéns para Maria Angélica quando o clube dela vencia. Mas talvez isso só acontecesse porque os dois times eram muito ruins, e as vitórias, muito raras.
              Então, no campeonato deste ano, as coisas mudaram . Novos reforços foram apresentados, técnicos foram contratados, as equipes melhoraram e as torcidas começavam a ter esperanças.
              As coisas mudaram tanto que os dois times chegaram à final do torneio.
              Tadeu comprou um uniforme azul e amarelo para ir ao estádio. Maria Angélica foi com uma enorme bandeira verde e branca.
              Os dois sentaram lado a lado durante a partida. Para evitar brigas, tentavam não vibrar demais quando os seus times acertavam um lance, nem zombar do outro quando a equipe adversária cometia algum erro.
              O zero a zero vinha mantendo a paz do casal, porém, no último lance do jogo, quando o time de Tadeu marcou o gol da vitória, ele não se conteve e gritou: “Goooooooooo!”. E assim mesmo, com dez letras “o”.
              Mas ele não parou aí. Começou a dançar em volta de Maria Angélica enquanto cantava “ ê ,ô,ê,ô meu time é um terror, ê, ô, ê , ô e o seu time é perdedor”.
              Maria Angélica ficou verde de ódio. Então disparou:
        _ Tadeu, você passou dos limites. Cartão vermelho!
        _ Como assim, Maria Angélica, você está me expulsando de campo?
        _ E do casamento. Você pisou na bola!
        _ Ta, eu exagerei, mas também não precisa entrar de sola.
        _ Agora é tarde. Você chutou nosso amor para escanteio!
        _ Calma, eu não quero tirar o time de campo. Vamos tentar um segundo tempo...
        _ Não, senhor. Você já estava na marca do pênalti. Pode ir para o chuveiro!
        _ Quem sabe uma prorrogação?
        _ Não. Fim de jogo.
        Tadeu sentou na arquibancada, apoiou a cabeça nas  mãos e disse:
        _ Tudo bem, Maria Angélica, se você quer que eu pendure as chuteiras, é assim que vai ser. Mas isso me deixa muito triste , porque a gente fazia uma tabelinha e tanto. Eu acho que você bate um bolão e sempre que eu chegava em casa corria para o abraço. Sabe, eu vestia a camisa do nosso casamento.... eu jogava por amor....
              Aquela declaração deixou os olhos de Maria Angélica encharcados como o Maracanã sem drenagem. Então ela jogou longe sua bandeira e pulou sobre Tadeu como se ele tivesse marcado um gol decisivo.
              Tadeu olhou fundo nos olhos de Maria Angélica e, com voz emocionada, cantou:
         _“Ê, ô, ê, ô, nosso amor é um terror”!
         _ Tadeu, foi a coisa mais linda que alguém já me disse.
             Então os dois beijaram-se, fizeram as pazes e viveram felizes para sempre. Ou,  pelo menos, até a próxima final de campeonato.

          Conto de José Roberto Torero

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