Adoro a Eva Furnari. Gosto muito da forma dela escrever sempre propondo uma reflexão sobre as diferenças que são comuns a todos nós, muitas vezes rejeitadas socialmente, inclusive no contexto escolar. Este conto é muito bom, além de ser divertido, inteligente e que pode ser usado em sala de aula para diversos fins...
A Juliana tinha um amigo chamado Fungo. Ele morava na casa de bonecas e conseguia até ajeitar-se bem nas pequenas cadeiras e na caminha azul, apesar de ser mais gordo que elas.
Fungo era talentoso. Escrevia poemas, histórias e desejava ser um grande escritor, porém sentia falta de um mestre. Juliana, definitivamente, não podia ser esse mestre, pois aprendera a escrever havia pouco tempo.
Além do mais, ultimamente a amizade deles andava estremecida, porque Juliana dava mais atenção às bonecas que a ele. Fungo não entendia qual era a graça que ela via naquelas bonecas mudas, sem cultura e sem sentimentos. Fungo suspeitava que fossem mesmo burras, principalmente aquele boneco Tob, que parecia uma montanha de músculos inúteis, pois nem se trocar sozinho ele sabia. Era uma dependência total, um vexame, e Juliana é que precisava trocá-lo toda vez.
Numa certa madrugada, em que Fungo estava sem sono, viu jogado no chão o caderno de Juliana com uma redação assim:
Fungo leu e achou pobre, mal escrito, com cinco erros de português, além da falta de estilo. Num ato de ousadia arrancou a página e reescreveu a redação do jeito que ele achava que ficava melhor:
Fungo foi dormir orgulhosíssimo de sua redação, feliz com a chance de receber comentários da professora de Português de Juliana, essa, sim, uma verdadeira mestra.
No dia seguinte, a amiga voltou furiosa da escola e proibiu Fungo de escrever uma linha que fosse em seus cadernos, pois os colegas da classe tinham achado que ela estava maluca por escrever tais bobagens.
Chateado, Fungo recolheu-se à sua casinha e esperou anoitecer.
Quando Juliana finalmente adormeceu, ele foi silenciosamente até a mochila, apanhou o caderno da menina e leu o comentário da professora:
Redação muito criativa, cheia de imaginação e bem escrita, precisa apenas caprichar mais na letra. Nota dez.
Fungo adorou, achou o máximo e pensou até em entrar para a escola. Claro, só quando a Juliana se acalmasse. Talvez pudesse ficar na classe dentro da mochila, já que os adultos com certeza não iriam entender um monstro culto como ele querendo assistir aula.
Conto de Eva Furnari